Tiros

terça-feira, 1 de julho de 2008

Manobras na Sede


O nosso agente continuava embrenhado na sua missão. A necessidade de efectuar levantamentos da realidade local já o tinham obrigado a frequentar algumas obrigações sociais. Convite para uma noite Lusófona, que gentilmente declinou por falta de agenda, um concerto da Daniela Mercury, para já não mencionar a abertura da época de saldos.
Lá longe, na Sede, as movimentações eram mais que muitas e apenas ouvia rumores de posicionamentos estratégicos destinados a ocupar posições cimeiras. Estariam também em saldos? Tanto quanto se lembrava ainda era cedo...
Pelos vistos, a muito anunciada reestruturação tinha avançado. Mais por imposição externa do que por vontade própria. Uma parte do seu departamento tinha agora autonomia. Pelos vistos o "MãeBouApear-me" que alguns tinham andado a frequentar com um famoso guru autonomista, líder incontestado de um ilheu, tinha dado os seus frutos. Quais Ian Smith dos Cartuchos Ocos declararam que seguiriam o seu percurso de independência. Só faltou o Ipiranga...pelo menos na Cidade Luz não se ouviu.

A secessão tinha criado um vazio que, segundo constava, era necessário preencher. As especulações eram muitas...Oficiais de várias missões (Tejo, eMigração, Manutenção, Base,...) posicionavam-se ora escolhendo as suas tropas ora apostando em chefes de fila e alinhavam estratégias. Pelos vistos apenas os agentes em missão no exterior estavam literalmente Outsiders. Todos tentavam acertar na resposta à pergunta que lhes abriria a porta..."Mas afinal de cor é o carro?"

O estar fora permitia-lhe assistir divertido a todas estas manobras de diversão esperando, no seu íntimo, que se esquecessem da existência da sua missão, o que lhe permitiria embrenhar-se com mais afinco nos seus objectivos. Não fosse a sua secretária vazia lá na Sede indiciar que faltava um agente e quase de certeza que poderia ficar tranquilo...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Visita surpresa


Embrenhados no seu trabalho o Agente e o Allez (conforme era carinhosamente apelidado pelos seus colegas da Sede) nem davam pelo tempo a passar.

Passava o tempo...passavam as canecas...passavam as elegantes habitantes do burgo...

Numa dessas tardes, após um extenuante dia de trabalho, o nosso Agente é surpreendido no seu caminho para casa...Qual não é o seu espanto quando vê um sorriso conhecido à sua porta. Aquilo que era suposto ser um refúgio a qualquer "intro-missão" tinha sido facilmente descoberto.

"Então sempre vieste!" afirmou com um sorriso de boas vindas. "Entra..."

Ainda tinha uns dias de trabalho antes de se poder dedicar por inteiro à sua visitante mas o fim-de-semana previa-se fascinante.

Percorreram todos os cantos da cidade desafiando o corpo numa busca incansável e desenfreada pelo desconhecido, tentando absorver todos os sentimentos e sensações que só esta cidade sabe provocar.

Ficaram exaustos...

No Domingo ela partiu...ficou novamente remetido ao trabalho e ao turbilhão da cidade. Mas a cidade, paradoxalmente, parecia-lhe diferente.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Cidade das Luzes



A pressão aumenta. Não bastava já os desafios existentes na Missão tinham também de efectuar relatórios constantes sobre o desenrolar desta, numa espiral crescente de qualidade que tolheria a escrita ao mais remoto habitante de Lanzarote.

Movidos por uma qualquer força misteriosa, provavelmente provocada por uma tentativa desesperada de fuga à queda dos pianos que teimavam em se precipitar sobre as cabeças dos seus colegas que tinham ficado na sua terra natal, estes produziam constantes prosas literárias fazendo com que o nosso Agente sentisse realmente o peso de estar numa das capitais da cultura mundial. A fasquia estava mais elevada de dia para dia. A continuar a este ritmo acabariam por ultrapassar os gnomos azuis, considerados expoentes máximos na arte dos diapositivos, capazes de transformar o mais pequeno trabalho numa obra de referência.

A missão continuava a decorrer ao ritmo da cidade das luzes. Allez, nome pelo qual era conhecido nos meios o seu parceiro, tinha-se adaptado rapidamente aos diversos desafios que se lhe iam deparando. Nos diversos locais aprazíveis da cidade, Allez, movia-se como peixe na água, ou melhor, como um alemão na cesta da cerveja em Munique, talvez este fosse o quadro mais adequado à sua constante boa disposição. Para ele uma boa tarde ao sol no Jardin du Luxemburgo era o seu passatempo preferido e o café Etiénne Marcel a sua segunda casa, chegou mesmo a pensar em mudar-se para lá! e a Place de la Contrescarpe...oh!lálá. C'est Paris.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Contexto


Estava na altura de contactar os Agentes locais. Apesar de colegas, alguns não tinham perfil para desempenhar a missão em causa, e estavam mais habituados a doce vida local e contrariamente ao ritmo da cidade, estes parecia estarem dominados por uma pacatez de outros tempos. Bem, tinham de se ajustar e contar essencialmente com eles próprios. Nem mesmo, poderiam contar com apoio de retaguarda, uma vez que a sua missão não lhes estava inicialmente destinada. Também aqui a moda do outsourcing ditava as suas regras.

Afinal uma Missão que, quem avaliasse de fora diria que seria uma promoção e um acreditar no seu potencial à laia de indigitação dos embaixadores para as principais capitais do mundo na carreira diplomática, aqui revestia-se de um presente envenenado. Se corresse bem era porque era uma Missão fácil, mais umas férias e por conseguinte o retorno seria zero. Se corresse mal era que as suas ideias na estruturação da Missão e dos objectivos que preconizava no seu trabalho estavam ultrapassadas e por conseguinte a sua carreira terminada. Talvez a terminasse com um destacamento em Maputo, qual Sibéria para os Agentes que não se enquadravam nos novos desígnios e rumos definidos para o seu Departamento. Aliás já havia alguns seus colegas que defendiam a sua transferência antes mesmo da Missão chegar ao fim. Que não era trabalho para um Agente, que devia ter ido alguém com características de Analista.

Como costumava dizer "Se fosse bom não era para nós.". Era um jogo viciado à partida.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Chegada


Após terem chegado ao local onde a missão se deveria desenrolar, resolveram misturar-se com a população local. Saíram de casa e dirigiram-se a um café típico da zona e que deveria ser um bom ponto de contacto para percepcionar a realidade local e interiorizar o seu modus vivendi.

O ponto escolhido foi o "Le Café Noir" que se encontra semi deserto mas cujas empregadas irradiavam cultura Parisiense. Sentaram-se ambos. Pediram umas pressions...
Quelle est la marque que vous préférez?- perguntou a empregada utilizando os seus profundos conhecimentos do Business. O Estajas ficou à toa. Ganda noia! Em alfragide só há Sagres e nem o tamanho posso escolher!
A empregada lá enumerou as marcas que havia:
-Stella Artois, Leffe,...
C'est une Stella Artois pour mon copain et vous choisi une pour moi s'il vous plait! - respondeu o Agente por forma a tornar o ambiente mais informal.
-Les voilá!
Sentaram-se. Puxaram de cigarros e foram trocando impressões sobre a vizinhança que passava.
O Agente puxou do telefone e efectou uma chamada...
Entretanto uma rapariga aproxima-se da mesa e começa a falar com ambos. Isto hoje está bonito! pensou o Agente Mal um tipo se senta alguém se mete. Este parceiro parece que atrai a confusão. - pensou enquanto continuava ao telefone.
A rapariga continuava a falar. Parceiro estava à toa. Ela pede um cigarro. O Agente dá-lhe a caixa de cigarrilhas enquanto falava ao telefone...
Ela pergunta se pode tirar outro. Consente com um gesto ... a rapariga fala-lhe directamente ignorando ostensivamente que ele estava ao telefone...interronpe o telefonema. "Espera um bocado estão-me a perguntar qualquer coisa e eu não estou a perceber." disse o Agente.
"Ces cigarettes sont très chic, ...mon mec à ..., demain c'est mon anniversaire..., etc.". Ignorou a rapariga e continuou o telefonema. "Desculpa, continua o que estavas a dizer...". Afinal estava cá em trabalho não podia perder tempo com conneries. Era a primeira vez que utilizada o termo em francês...mal sabia que o iria utilizar muitas mais.
A rapariga foi-se embora. Desligou o telefone.
"Não percebi nada"- desabafou o seu parceiro bebendo mais um gole.
Isto começa bem! - pensou.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

sexta-feira, 9 de maio de 2008

A viagem

Por precaução, e como lhe foi ensinado na Velha Escola, não deveria viajar no lugar ao lado Aprendiz. Assim, sentou-se numas filas mais atrás por forma a poder controlar de forma insuspeita todas as movimentações, enquanto que o seu parceiro se sentou na fila da frente. Pensou para consigo: "Este deve pensar que chega primeiro que eu! Vamos ver se não tens nenhuma surpresa na viagem."
Durante a viagem foi folheando as revistas e jornais, que tinha apanhado no quiosque seboso da estação, enquanto olhava de relance o que se ía passando. Por outro lado, o seu parceiro, parecia dominar completamente a situação e conversava alegremente com o viajante que estava sentado ao seu lado como se fosse um velho conhecido. A situação pareceu-lhe estranha. Se fosse consigo nem um Bom dia teria trocado.
Passada uma hora de viagem cruzaram-se no corredor e o seu parceiro disse-lhe que tinha travado conhecimento com senhor muito simpático oriundo de uma província afastada e que já tinha desempenhado funções no aparelho do Estado. "Estranho" pensou novamente. "Quando tiver oportunidade tenho de ver se o reconheço".
Entretanto o aparevitch levantou-se e dirigiu-se à casa de banho. Aí reconheceu-o imediatamente! Explicou ao seu parceiro quem ele era. Voltaram aos seus lugares.
Quando a viajem terminou viu o seu parceiro despedir-se do apparavitch trocando números de telemóvel e apertando as mãos. Com o seu entusiasmo jovial, o seu parceiro, apresentou-o ao conhecido de viajem. Cumprimentaram-se e ainda ouviu este prometer que telefonaria depois ao seu parceiro. "Mas trocaram números de telemóvel?!?! Estranho! - pensou mais uma vez.
Pelos vistos nas escolas já não ensinavam como antigamente.
Na viajem até ao apartamento, situado no centro da cidade, o seu parceiro contava entusiasmado as conversas que tinha entabulado com o seu companheiro de viagem. Mais tarde veio a saber que aquela simpatia toda talvez não fosse gratuita e que poderia mesmo ter um propósito menos correcto.
Conforme prometido o apparevitch telefonou. Sorte do destino, o seu parceiro não o ouviu tocar. A sorte protege-o...